segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Crônica de anti-carnaval

Dia sim, dia não, ele toma duas doses de Whisky do bom no fim da noite para relaxar. A primeira dose é 'on the rocks', ou seja, com gelo. Uma vez que a garganta já está amaciada ele manda a segunda dose sem gelo mesmo ('Cowboy'). Aliás essas expressões devem ser coisa de americano, por duas razões. Primeiro, porque na Grã Bretanha só se toma Whisky sem gelo, esse papo de colocar água congelada foi o 'Tio Sam' que inventou. Segundo, porque o destilado sem gelo é chamado de 'Cowboy', ou seja, na cultura americana é o forte, o valentão, o machão. E confessemos: Tomar Whisky sem gelo é pra macho.

Duas doses depois e ele já está mais sensível. Chora com qualquer frase clichê de amor dita em um filme vagabundo da sessão da madrugada na TV, lembra das pessoas que se foram e dos amores que ele luta pra esquecer. Pensa na própria vida e vê que está velho e ainda não plantou uma árvore, não escreveu um livro e nem teve um filho.
Que legado deixará para a humanidade? Ele ainda não sabe, mas sabe que quer deixar. Não quer passar em branco como a maioria passa.

A melancolia se torna mais acentuada com a baixa iluminação da sala de estar. Luzes apagadas, apenas uma luminária acesa e o azul da TV na cara dele. O filme acabou e agora passa o carnaval. Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo. O azul da TV é uma porrada em sua cara barbuda. As pessoas se divertindo. Muitas desempregadas, com a conta negativa no banco e tudo mais, mas joguemos os problemas para a quarta de cinzas.

O velho cidadão cansou da melancolia. Ensaia ver outro filme, mas o sono bate. Tenta ler um livro, mas acha que Carnaval não combina com livros.
Vai é dormir. Torcendo para que no dia seguinte não acorde de ressaca e que também passe logo o carnaval.

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