E de repente ele levantou da cama onde lia um livro e abriu a porta do quarto. Lá estava ela: Linda, de branco, contrastando com sua pele jambo e com um olhar pedinte. Pedia tudo: Amor, carinho, compaixão e atenção.
Ele naquela altura era um rapaz abonado e vivia tranqüilamente e feliz. Tinha tudo que precisava e entre essas coisas não estava mais ela. Mesmo assim, a acolheu e ofereceu um ouvido amigo para escutá-la. Ela precisava.
Tomando um drink, ela fala. Fala de seus arrependimentos, de sua vivência e dos tombos que levou. Não foi por falta de aviso.
Enquanto ela fala, nosso personagem começa a analisá-la e vê que o tempo foi cruel com ela. A pele já não conservava os traços suaves de outrora. Já estava enrugada. Os olhos já não irradiavam tanta vida, estavam cansados. O sorriso não era mais de alegria, era um sorriso acanhado. Ela sofria e como uma criança que todos nós somos, no fundo, não agüentava a barra de viver nesse mundo.
Mesmo assim ele ainda a achava linda. Talvez achasse mais pelo que ela representou do que pelo que ela é, atualmente. Mas ele achava. A moça (que já não era tão moça) começa a falar da relação dos dois. Casos velhos, abraços, declarações, coisas da época da faculdade. Ele sente saudade da época, mas também sente dó. Dó, pois nota que ela parou no tempo e sente saudade do que não viveu, ou do que viveu de forma errada.
Eles jantam, tomam um vinho e no final da visita, um beijo. Mas não um beijo como aqueles de antigamente em que ele sonhava dar e ela negara, ou aqueles que depois, trocavam apaixonados. Foi um beijo na boca, sim. Mas um beijo da cumplicidade. Pelo reencontro.
Na saída, um forte abraço. Ele fecha a porta e tenta voltar a ler o livro. Não consegue e chora. Ela sai e ao entrar no elevador, também cai em prantos. Ambos com o mesmo pensamento: Esta é a pessoa da minha vida e eu não aproveitei, eu a perdi. Ou foi o mundo que a tirou de mim? O que eu fiz da minha vida?
Isso é bem mais comum do que se pensa...
Memórias
Há 14 anos
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