Toda novela das 20h (o termo aqui é só por costume, ultimamente elas começam às 21h30) gera discussão. Faz sucesso. Vira capa de revistas e as músicas tocam incessantemente nas rádios. Sempre possuem um núcleo de humor e bordões que caem na boca do povo. Como diria o magistral Sinhozinho Malta, tô certo ou tô errado?
Errado. "A Favorita", a atual dona do horário foge de alguns desses clichês baratos, como apelar para "quem matou quem", bordões e núcleos de humor. A trama de João Emanuel Carneiro, é um thriller policial maravilhoso, criativo. Sem a falta de imaginação que perdura nas novelas há muito tempo.
A história de Flora e Donatela é revolucionária. A vilã não passa de uma perturbada mental que ama a mocinha, uma psicopata que mata tudo e todos a sangue frio. A maioria das personagens não são nem 100% bons e nem 100% ruins. Existe um quê de bondade e maldade em cada um.
O elenco é formidável. Patrícia Pillar está deliciosamente perversa como Flora. É o destaque do ano. Claudia Raia, impecável como Donatela, aquela que todos achavam no começo da novela que era a assassina. Mariana Ximenes, apesar de fazer uma personagem 10 anos mais nova que ela, está perfeita. Destaque também para Murilo Benício, como o malandro Dodi.
Ah! E é sempre bom ver Tarcisio, Glória, Mauro Mendonça e o grande Ary Fontoura. A velha guarda é fundamental.
Só pelo fato de não apelar para personagens engraçadinhas, bordões e o medonho "quem matou quem?", "A Favorita" já merece menção. Pela ousadia de revelar o grande mistério da novela no capítulo 60 (com 3 meses de exibição) então? Merece louvor!
E o que dizer do trabalho de produção da Rede Globo? Não é a toa que ela é...bem, a Rede Globo!
A trilha sonora, a luz, a fotografia. Vejam, por exemplo a cena do reencontro de Flora e Donatela em um teatro abandonado exibida ontem e hoje? Aquilo é cinema puro!
O jovem JEC (o autor) , em sua terceira novela, escreveu logo em sua primeira trama em horário nobre, uma história bem amarrada e bem fundamentada. "A Favorita" é a melhor novela que vi nos últimos 10 anos ou mais. Mas para não ser injusto, com "Torre de Babel" (1998), que também foi boa, do maravilhoso Sílvio de Abreu vou me ater de 1999 pra cima.
Tanto novela quanto autor já marcaram presença na história recente da TV.
E depois da semana que vem no lugar de "A Favorita" estréia "Caminho das Índias", de Glória Perez. E Glória Perez é Glória Perez, né? Clichês, polêmicas provocadas, bordões que grudam e toda aquela canastronice habitual. Espero estar enganado, mas...
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